quinta-feira, 3 de julho de 2008

Política: refletir é preciso

Paula Mattäus

Sei que seria um pleonasmo de minha parte, mas não poderia deixar de reproduzir a Coluna Nas Entrelinhas, escrita pelo jornalista Gustavo Krieger, do jornal Correio Braziliense, às segundas e às quintas – feiras na referida publicação. Sei que alguns dirão que estou fazendo média, que sou puxa – saco... Isso, pelo fato de que conheço o jornalista. Não me importa. Não estou a me apropriar da obra intelectual deste senhor, o que constituiria, claramente, plágio. Desde já, peço desculpas ao senhor Krieger, se por ventura não venha gostar. Até porque, estou a citar a fonte.
Estou a reforçar as palavras de Krieger, por achar que o texto titulado “Depois daquele abraço”, ilustra, de maneira simples, como a percepção sobre as atitudes dos demais deve ser algo a ser tomado como objeto de estudo, o que reforça, para esta que vos escreve, a sensibilidade de seu autor para com o próximo. Gostaria que, suas palavras não motivassem apenas discursos, o que é de praxe na política. Quero, sinceramente, que a classe colocasse a mão na consciência e pusesse em prática boas ações. Atitudes civilizadas, estas, que deveriam partir, primeiramente, do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Homens de verdade, deixam seus orgulhos e interesses de lado para promoverem ações que sirvam ao bem comum, mesmo que estas fujam aos seus interesses. Buscam serem justos, acima de tudo. Esse é o tipo de atitude que esperamos daqueles em que votamos, pois, homens de bem representam homens de bem. Pelo menos, esperamos que seja assim...
Queremos nos espelhar em bons exemplos, apesar de que, isso pareça utópico. Se os sentimentos de justiça, amor e respeito forem verdadeiros, muita coisa irá acontecer, com certeza... Depois daquele abraço.

Segue abaixo, o texto de autoria do jornalista Gustavo Krieger. Espero que, assim como eu, gostem:

Depois daquele abraço

Seria bom se a política pudesse ser mais civilizada. Seria uma justa homenagem a dona Ruth. Mas é difícil acreditar

Por Gustavo Krieger
gustavo.krieger@correioweb.com.br

A imagem da política na semana passada foi o abraço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Fernando Henrique Cardoso, durante o velório de dona Ruth. Eles foram além do protocolar aperto de mãos e quem assistiu à cena ficou com a impressão de que havia no gesto uma carga maior de verdade do que a vista normalmente nos contatos entre os políticos. Mas até que ponto o abraço é pessoal ou político? E mesmo que tenha sido pessoal, vai gerar efeitos políticos?

Durante o velório, o presidente conversou com o governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves. Lamentou a distância entre PT e PSDB. “Temos os mesmos amigos. É curioso que estejamos tão distantes”, comentou o presidente. Ao voltar a Brasília, Lula repetiu a interlocutores próximos a mesma questão. Especulou se não seria a hora de tentar uma aproximação com os tucanos. Ao menos para maneirar o tom dos ataques trocados entre os caciques dos dois partidos.

Seria bom se a política pudesse ser mais civilizada. E seria uma justa homenagem a dona Ruth Cardoso se esse tipo de gesto surgisse de sua memória. Mas é difícil acreditar.

O presidente fez seu comentário com Aécio Neves, um tucano de quem ele comprovadamente gosta. O governador é um parceiro político do prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel. Em conversas reservadas, Lula já disse mais de uma vez que gostaria de ver o governador mineiro como seu sucessor no Palácio do Planalto. De preferência eleito por um partido da base do atual governo, como o PMDB. Mas, se isso não fosse possível, como representante de um PSDB moderado. Aécio já se definiu como um presidenciável “pós-Lula” e nunca como a antítese do atual governo.

Diante dessas condições, Pimentel e Aécio montaram um acordo para levar PT e PSDB ao mesmo palanque. Seria um ensaio da tal convivência civilizada entre as duas legendas. Para não melindrar ninguém, o candidato viria de uma terceira legenda, o PSB. O acordo foi detonado por tucanos e petistas. A Executiva Nacional do PT recomendou distância entre as duas legendas. Isso, apesar de Lula ver o acordo com bons olhos.

Lula e Fernando Henrique têm uma relação complicada. Já foram aliados, respeitam-se mas esbarram num ponto incontornável. Cada um usa a si mesmo como critério de medição do governo do outro. Quando Lula repete o bordão de que “nunca antes na história desse país” um presidente fez tanto quanto ele, está mirando em Fernando Henrique. O ex-presidente sabe disso. Poucas coisas incomodam tanto Lula quanto uma entrevista de FHC batendo em sua gestão. E uma forma infalível de abalar a fleuma de Fernando Henrique é colocá-lo a assistir um discurso do atual presidente.

Os dois conduziram uma transição democrática admirável . E não se perdoam por isso. FHC acha que as críticas de Lula ao seu governo não retribuem a fidalguia com a qual foi tratado. E Lula… Bem, Lula acha a mesma coisa de Fernando Henrique.

O presidente chegou ao velório acompanhado por uma grande comitiva de ministros. Um sinal do prestígio de dona Ruth. O que pouca gente sabe é que antes de embarcar, o presidente conduziu uma discussão entre seus conselheiros. A dúvida era se seria de bom tom a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comparecer ao funeral. Afinal, poucos dias antes, o PSDB pedia a queda de Dilma, acusada de ter usado dados confidenciais do governo para produzir um dossiê com gastos de cartões corporativos no governo Fernando Henrique. Entre as compras selecionadas, destacavam-se as atribuídas a dona Ruth.

Tucanos e petistas com quem conversei, duvidam de uma aproximação. Não que existam diferenças ideológicas insanáveis. Ao contrário. O pensamento dos dois partidos é muito parecido, como mostram as gestões de Lula e FHC. O problema é outro. As duas legendas são os pólos da disputa pelo poder no Brasil. E isso, não há abraço que supere.

Nada disso significa que o sentimento demonstrado por Lula na despedida de dona Ruth seja falso. Muitas vezes nos enganamos ao destituir os políticos da dimensão humana. Eles são pessoas, mesmo se não pensarmos muito neles dessa forma. Lula respeitava Ruth Cardoso. A morte dela tocou as pessoas que acompanharam sua trajetória política. E mais ainda as que conviveram com ela. Os olhos de Fernando Henrique, ainda vermelhos pelo choro, são uma imagem de vulnerabilidade rara. Momentos como esse trazem à tona o melhor das pessoas. O problema é que o cotidiano da política faz com que o sentimento não dure muito.