sexta-feira, 13 de junho de 2008

Refinado Presente entrevista:

Bem à moda da casa


Por Paula Mattäus


Fábio Ibiapina, 28 anos, desde os 16 trabalha profissionalmente com edição. É filho de jornalistas e sempre conviveu com os bastidores da notícia. Desde cedo aprendeu bem a lição de como “vestir a camisa”. Ele bem que poderia trabalhar nas relações públicas da emissora, afinal fala muito bem dela - A Rede Globo de Televisão, embora não prefira por se considerar uma pessoa tímida. “Por conta disso optei por trabalhar na cozinha da redação, atrás das câmeras”, diz. Se timidez e propaganda rendem prêmios, Fábio tem muito a comemorar: suas edições já ganharam os prêmios CNT, Embrapa e Ethos.

P.M.: O que há de melhor, para o senhor, na profissão de jornalista?

F.I.: A oportunidade de ajudar pessoas, ajudar o País, formar opiniões e ser agente de transformação político-social.

P.M.: Edição é um trabalho primoroso em que o senhor tem a missão de "lapidar" as matérias e dar finalização aos desejos de quem as propôs. Por que quando as idéias estão em um papel, são poucos a quererem abraçá – las e quando os senhores, editores as finalizam, todos querem os projetos para si ? Gostaria que o senhor também explicasse como funciona a indústria dos prêmios.

F.I.: Não concordo com essa colocação. Televisão é feita com trabalho em equipe. Para uma matéria sair do papel, é preciso que todos abracem a causa. Na minha opinião, não existe uma indústria de prêmios.

P.M.: Recentemente, com a tua edição, com reportagem de Fábio William, a série sobre presídios exibida pelo Jornal da Globo trouxe uma nova visão sobre o que é se trabalhar com a nossa praça (Brasília), a edição que o senhor fez desbancou as das principais (Rio de Janeiro e São Paulo). O que falta para que o trabalho produzido aqui seja visto com mais respeito? O senhor se considera um "divisor de águas" neste processo?

F.I.: Primeiro, gostaria de deixar claro que não existe uma competição entre as praças, por isso considero o termo "desbancar" inadequado. Na Globo, não existe uma divisão de praças mais e menos importantes. Dentro da Rede, todas têm importância. Por Brasília não ser uma cabeça de rede, isto é, não ter nenhum jornal ancorado por aqui, muitas vezes, equivocadamente, é vista como uma praça de menor importância. Mas, na prática, não é assim. A Capital Federal é a maior fonte de notícias dos telejornais da TV GLOBO. Fornecemos uma média de quatro matérias diárias para o Jornal Nacional, que é o carro - chefe da empresa. Para você compreender esse montante, o Rio fornece uma média de duas matérias e São Paulo três. O trabalho feito em Brasília é muito respeitado. Temos grande participação em todos os telejornais. Temos também o jornalista mais premiado da Globo, que é o repórter Marcelo Canellas. Sem contar as inúmeras séries especiais que já foram editadas por aqui, para os mais diversos produtos da casa. A TVG Brasília também é considerada uma grande escola. Renomados jornalistas saíram de lá. Para citar alguns exemplos: Marília Gabriela, Celso Freitas, André Junqueira, Marcos Hummel, Eliaquim Araújo e Leila Cordeiro, Leilane Naubert, Fábio Willian, Tadeu Schmidt, Ismar Madeira, Heraldo Pereira, Chico José, Beatriz Castro, Alexandre Garcia, Giuliana Morrone, Leila Sterenberg, Ana Paula Padrão, Júlio Mosquéra, Franklin Martins, Paulo José Cunha, Adriana Araújo, Renato Peters, Veruska Donato, dentre muitos outros. Não me considero um divisor de águas.

P. M.: A série sobre presídios - Apagão Carcerário - , abordou vários temas dentro da realidade do cárcere. Uma delas é a corrupção. Com relação a CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – do Sistema Carcerário, qual é o sentimento que o senhor tem em relação a ela ? Pensa que, como as demais, a única contribuição que dará ao País será o agravamento do sistema?

F.I.: Meu sentimento é de grande entusiasmo. Só foi possível realizar a série Apagão Carcerário graças à CPI, que escancarou a porta dos presídios de vários estados do Brasil. Estou bastante otimista com o relatório que será publicado na próxima semana. Acredito que a CPI contribuirá para a melhoria do nosso sistema carcerário. Um prova disso são as providências que já estão sendo tomadas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, irão implodir o Presídio Central.

P.M.: Com relação à televisão digital, o que o senhor espera de mudanças em teus trabalhos?

F.I.: A TV digital trará maior qualidade técnica às matérias. Quem ganha é o telespectador.

P.M.: Falar do que é editado e o produto final de uma edição implica uma série de interesses; nesse processo, muitos dão palpites e não querem que estes, mesmo que ruins, sejam rejeitados. Sabemos que, em todas as profissões, há aquele que se considera "a estrela", como é, para o senhor, ter que lidar todos os dias com isso?

F.I.: Acho que a nossa maior dificuldade e grande desafio é lidar com o próprio ego.

P.M.: Sobre o “acordo entre cavalheiros”, um diz que não vai dar determinada matéria, faz com que os demais colegas aceitem o fato e, para "mostrar serviço", quebra com o acordo, o que coloca todos os senhores, produtores ou não das reportagens, contra a parede. O que o senhor acha a respeito disso? Não seria antiético privar os telespectadores do que seria de seus interesses para somente atenderem aos benefícios dos senhores?

F.I.: Do tempo em que trabalho na Globo, nunca soube de nada parecido.

P.M.: Para o senhor, quais são os prós e os contras de se trabalhar na empresa dos Marinho? O senhor pensa ser antiético responder a esta?

F.I.: Os prós são muitos: o alcance de público que a empresa tem; a seriedade com que a Globo trata seus funcionários e telespectadores; a grandiosa estrutura que nos permite realizar um trabalho sério de qualidade; a competência dos profissionais, que faz da empresa uma grande escola; o compromisso social; dentre inúmeros outros. Acho que os maiores contras são as idéias de conspiracionismo que o senso comum cria e os mitos que delas resultam.

P.M.: Por que tudo começa onde está a "vênus platinada" da televisão? Fico muito feliz de saber que a polícia trabalha bem depois que aparece nela, denúncias são feitas, o erário serve à sua real destinação, corruptos são julgados, mesmo que não sejam cassados...Dá uma alegria sabe...

F.I.: Por conta da grande audiência, as matérias veiculadas na TV GLOBO acabam tendo uma maior repercussão. Isso sem dúvida exerce grande influência no agendamento - setting.

P.M.: Um real exemplo de que tudo começa onde " a líder" está, ocorreu no primeiro trimestre de 2002, quando do escândalo sobre o dinheiro "encontrado" no escritório da então candidata Roseana Sarney, aquela história com a Usimar. Por incrível que pareça, mesmo antes que a Polícia Federal chegasse, os senhores já estavam lá. Meses depois, aqui em Brasília, eu, sim, pelo fator destino, estava próxima de um hangar, quando a viatura dos senhores lá chegou, isso dez minutos antes dos Federais. Só para lembrar: isso se deu naquela operação que apreendeu mais de duas dezenas de milhões com advogados da Igreja Universal do Reino de Deus. Diante de fatos, quero argumentos:

F.I.: Não é que as coisas começam onde a Globo está, poderíamos concluir que nesses casos citados, por meio de um profundo trabalho de apuração, a TV GLOBO conseguiu chegar primeiro para cobrir a notícia. Isso é o resultado de muito trabalho e dedicação de diversos profissionais que trabalham nos bastidores.

P.M.: Primeiro, como os senhores separam os espetáculos daquilo que é uma verdadeira notícia?

F.I.: Sabe aquela história do segredo de Tostines? Penso que no jornalismo ocorre o mesmo. Muitos espetáculos são verdadeiras notícias e muitas notícias se transformam em verdadeiros espetáculos, principalmente quando se lida com um maior número de telespectadores. Por exemplo, o caso das torres gêmeas já é por natureza um espetáculo. Por conta disso, deixa de ser notícia? O caso Isabela tornou-se um espetáculo, mas nem por isso era uma falsa notícia.

P.M.: Segundo, como confiar em quem lhes dão tais informações, pois não existem, para mim, coincidências, são pessoas tão importantes assim, ocupam cargos de destaque por acaso? Não custaria nada nos dizer...Quem são ?

F.I.: Realmente não podemos confiar em uma única fonte de informação. Por isso é importante um minucioso trabalho de apuração antes de veicular qualquer notícia.

(Uma hora eu consigo, caros leitores, não foi desta vez, porém me dou por satisfeita...Mas vou continuar tentando... Estou na luta! Fábio, você podia ter respondido!)

P.M.: Como nós, os telespectadores, podemos acreditar naquilo que é ou não editado? Qual o compromisso dos senhores com a informação, e qual é a responsabilidade da emissora com o nos bem informar e verdadeiramente informar?

F.I.: O compromisso da TV GLOBO é com a verdade e com o público. Isso resulta em credibilidade, que gera audiência. O Compromisso de nós jornalistas é o de levar ao telespectador a melhor e mais bem apurada informação. Mas acho que para você ficar bem informada é preciso buscar diversas fontes: jornais, revistas, blogs, agências de notícias. Essa pluralidade é importante para se ter um senso crítico equilibrado, que não seja nem romântico nem radical.

P.M.: O senhor, como cidadão, como se sente ao ver o retrato político do País?

F.I.: Analisando a nossa recente História, fico bastante otimista com os avanços que alcançamos. Temos hoje uma democracia séria e consolidada. Ao me deparar com a realidade do País, como a que mostramos nas séries Apagão Carcerário, Fome, Educação, Falcão Meninos do Tráfico, dentre várias outras notícias tristes que divulgamos, fico sensibilizado e bastante preocupado com o longo caminho que ainda temos que percorrer para transformar o Brasil em um país justo. Mas isso me motiva cada vez mais a lutar pelos meus ideais e pela melhoria de condição de vida dos meus irmãos brasileiros.

P. M.: A política editorial da empresa já o penalizou por alguma matéria que,
para ela, não seria de seu agrado ? Qual foi?

F.I.: Não. Esse tipo de atitude não faz parte da política da TV GLOBO.

P. M.: O que faria se ganhasse um prêmio na loteria? Abandonaria a profissão?

F.I.: Nunca abandonarei o jornalismo. Certamente eu montaria uma produtora e faria muitos documentários para mostrar o Brasil que não conhecemos.

P.M.: Como o senhor se definiria politicamente falando?

F.I.: Um cristão.

Agradecimentos: agradeço a Deus e ao seu filho, o militante do PC - Patido Cristão, Fábio Ibiapina da...(Não posso dizer o nome da emissora porque vai rimar...Aí não dá certo).